Tree of Pain

Imagine a tree, where every leaf is a thought, and all the thoughts are linked by branches to one only body, one only living being. But if that same living being is not capable to express them to others wouldn't he live in constant pain? So, he would be, a Tree of Pain.

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Location: Portugal

Friday, September 23, 2005


"Um belo dia entraram numa selva rica de árvores frondosíssimas, com frutos de todas as espécies, através da qual corria um rio de água branca como o leite. e na selva abriam-se clareiras verdejantes, com palmeiras e videiras carregadas de esplêndidos cachos de bagos do tamanho de uma cidra. Numa destas clareiras havia uma aldeia de cabanas simples e robustas, de palha limpa, de que saíram homens completamente nus da cabeça aos pés, e a alguns dos varões era só por acaso que às vezes a barba compridíssima e fluente cobria as partes pudendas. As mulheres não se envergonhavam de mostrar os seios e o ventre, mas dava a impressão de que o faziam de modo assaz casto: olhavam para os recém-chegados atrevidamente nos olhos, mas sem suscitarem pensamentos inconvenientes.
Eles falavam grego e, recebendo com cortesia os visitantes, disseram que eram gimnosofistas, ou seja, criaturas que, em inocente nudez, cultivavam a sapiência e praticavam a benevolência. Os nossos viajantes foram convidados a correrem livremente a sua silvestre aldeia, e à noite convidaram-nos para uma ceia feita apenas de alimentos produzidos pela terra. Baudolino fez algumas perguntas ao mais velho deles, que todos tratavam com particular reverência. Perguntou o que possuíam, e ele respondeu: - Possuímos a terra, as árvores, o sol, a lua e os astros. Quando temos fome comemos os frutos das árvores que, seguindo o sol e a lua, produzem sozinhos. Quando temos sede vamos ao rio e bebemos. Temos uma mulher para cada um seguindo o ciclo lunar cada um fecunda a sua companheira, até parir dois filhos, e damos um ao pai e outro à mâe.
Baudolino espantou-se por nâo ter visto nem um templo nem uum cemitério, e o velho disse: - Este Lugar em que estamos é também o nosso túmulo, e aqui morremos estendendo-nos no sono da morte. A terra gera-nos, a terra nutre-nos, debaixo da terra dormimos o sono eterno. Quanto ao templo, sabemos que os erigem noutros lugares, para honrar o que eles chamam Criador de todas as coisa. Mas nós acreditamos que as coisas por charis, na graça de si próprias, tal como si próprias se mantêm, e a borboleta leva o pólen à flor que, ao crescer, a nutrirá. - Mas pelo que estou a entender vós praticais o amor e o respeito recíproco, não matais animais e muito menos os vossos semelhantes. Em virtude de qual mandamento o fazeis? - Fazemo-lo precisamente para compensar a falta de todos os mandamentos. Só praticando e ensinando o bem podemos consolar os nosso semelhantes da falta de um Pai. - Não se pode passar sem um pai - murmurava o Poeta a Baudolino-, olha como se reduziu a nossa bela armada por morte de Frederico. Estes andam aqui a dar ar ao pardal mas não sabem nada do que é a vida... Borão pelo contrário ficou impressionado com aquela sabedoria, e começou a fazer uma série de perguntas ao ancião. - Quem são mais, os vivos ou os mortos? - Os mortos são mais, mas já não se podem contar. Portanto os que se vêem são mais que os outros que já não se podem ver. - O que é mais forte, a morte ou a vida? - A vida, porque o sol quando nasce tem raios luminosos e resplandecentes e quando se põe está mais fraco. - O que é maior, a terra ou o mar? - A terra, porque até o mar assenta no fundo da terra. - O que surgiu primeiro, a noite ou o dia? - A noite. Tudo o que nasce é formado nas trevas do ventre e só depois dado à luz. - Qual é a parte melhor, a direita ou a esquerda? - A direita. De facto o sol também nasce da direita e percorre a sua órbita no céu para a esquerda, e a mulher aleita primeiro da mama direita. - Qual é o mais feroz dos animais? - Perguntou então o Poeta. - O homem. - Porquê? - Pergunta a ti próprio. Tu também és uma fera que tem consigo outras feras e por ânsia de poder privar da vida todas as outras feras. Disse então o Poeta: - Mas se fossem todos como vós o mar não seria navegado, a terra não seria cultivada, nem nesceriam os grandes reinos que trazem ordem e grandeza à mesquinha desordem das coisas terrenas. Respondeu o ancião: - Cada uma dessas coisas é certamente uma fortuna, mas é construida sobre o infortúneo dos outros, e isto não queremos nós. Abdul perguntou se sabiam onde vivia a mais bela e mais distante de todas as princesas. - Andas à sua procura? - Perguntou o velho, e Abdul respondeu que sim. - Viste-a alguma vez? - E Abdul respondeu que não. - E deseja-la? - E Abdul respondeu que não sabia. Então o velho entrou na sua cabana e tornou a sair com um prato de metal, tão liso e reluzente que todas as coisas em volta se reflectiam nele como uma superfície de águas paradas. Disse: - Recebemos há muito tempo a prenda deste espelho, e não podiamos recusá-lo por cortesia para com o doador. Mas nenhum de nós queria ver-se nele, porque isso poderia induzir-nos à vaidade do nosso corpo, ou ao horror por qualquer defeito, e assim viveríamos no temor de que os outros nos desprezassem. Neste espelho, se calhar, um dia chegarás a ver o que procuras. Enquanto estavam quase a adormecer disse o Boidi, de olhos húmidos: - Fiquemo-nos por aqui. - Bela figura que farias, nu como um verme - rebateu o Poeta. - Talvez queiramos demasiado - disse o Rabi Solomon -, mas agora não podemos evitar querê-lo. Tornaram a partir na manhã seguinte."

Umberto Eco in "Baudolino"



A natureza criou os seres vivos de forma natural, segundo a teoria da evolução das espécies. Logo nós também fizemos parte dessa mesma criação. A natureza é a única que domina o mundo, cria e destrói, não é um deus, é a natureza. Mas agora, agora existe um deus. O Homem, que faz o que quer, destruindo mais que protegendo o que a natureza criou. Como podemos nós respeitar um Deus superior se não respeitamos algo ao qual fazemos parte como a natureza, e como o podemos respeitar se nos consideramos a nós próprios como deuses, será que estou errado? Dúvido.
Quem vencerá esta batalha, o homem ou a natureza? Será o Homem capza de destruir toda a natureza e evitar dessa forma ser destruido por ela. Pareçe que se andam a esforçar nesse capítulo. Mas não seremos nós também destruidos, sem a natureza? Somos totalmente dependentes dela. Seremos também dependentes de algum Deus?


"Houve um tempo em que pertencemos à natureza e a respeitámos como nossa mãe, agora ela pertence-nos, mas já mais nos respeitará."



Photographer: Sarah Leen, in Malheur, Oregon, USA

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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11:00 AM  

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